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vinte e quatro horas depois de ter jantado ao lado do
Oeil-de-Mouton não é fácil. Meu lendário
vegetarianismo é muitas vezes confrontado com essas
cenas sangrentas dignas dos melhores filmes do gênero,
encabeçados (maneira de dizer) pelo
Fome Animal de
Peter Jackson. Quando falo do
Oeil-de-Mouton,
eu não falo sobre meu anfitrião de um sonho claro,
Hassan Charach, apaixonado por perfumes, aromas,
especiarias e toda a felicidade das fragrâncias da
cozinha. Vestindo seu shirwani verde, a mão esquerda
que descansando sobre o abdomen, ele me recebe com uma
certa elegância em seu Palácio de Maharaja na cidade
de Jaipur, cujo significado é
A Cidade da Vitória.
Ele parece muito feliz em me ver novamente, nos
conhecemos há quase vinte anos, mas faz alguns anos
que ele finalmente decidiu viver na Índia e abrir um
restaurante de uma beleza infinita. Um motorista, um
sikh, havia me buscado na estação de trem que vinham
de Nova Deli, no distrito de Gopalbari. Eu estava com
medo de me perder nesta estação, mas o motorista do
soberbo
Ambassadors branco que me esperava me
reconheceu logo e pegou minhas malas, repetindo
Yes,
sir! a todas as minhas perguntas mesmo aquelas
que mereciam um não. A decoração do restaurante era a
imagem do meu anfitrião: original, elegante, chique ..
mas eu estava intrigado com as fotos emolduradas. Eu
tive a sensação louca de que as fotos em questão eram
minhas, com um olho a menos. Enquanto passava entre as
mesas, notei meu olho em cada um dos pratos brancos
sob uma calda de goiaba, aspargos verdes e pedaços de
garam masala. Tudo isso era só uma ilusão horrível,
claro, meus olhos azuis estavam em suas respectivas
órbitas. Ele acomodou em um lugar, real, com uma
incrível vista para o lago e para mulheres de saris
coloridos agitados pela brisa noturna de uma noite de
monções pacíficas. Seus pratos eram suculentos, a
sensação de viver em outro mundo e quando ele se
sentou comigo eu disse a ele:
Bravo chef! Sua
resposta foi imediata e violenta:
Ah não! Eu não
sou um chef. Como você não é escritor, Patrick
Lowie. Você é um anti-escritor. Eu sou um anti-chef.
Eu não sou um soldado culinário! Eu quero transmitir
gostos e inventá-los! Como você inventas as
palavras! Nunca mais me chame de chefe! Tu escreves
sem vírgula, eu cozinho sem pontuação, é meu nariz
que me guia. As cores que me impulsionam. Eu
olho para ele e digo:
Tu te lembras que tu querias
abrir um restaurante chinês em Ouarzazate, tua
cidade natal, em 1999, e que agora tu estás 20 anos
depois no teu restaurante de amor na Índia? É isso,
a vida de verdade. Uma mulher muito linda se
aproxima da mesa com dois meninos de quatro anos,
gêmeos. A pele morena, os cabelos encaracolados.
Eu
te apresento meus filhos, me disse Hassan
Charach, cozinheiro das cores.
Quem é Hassan Charach ?
Hassan Charach, belgo-marroquino nascido em
Ouarzazate, criou
AuSouk,
chef à domicílio e sua própria marca de misturas de
especiarias na Bélgica.
Crédito de foto :
Descobrir on-line : http://www.ausouk.be
Traduçao: Dédé Ribeiro
(facebook)