Françoise Lalande
Evidentemente, eu só queimava páginas em branco, sem palavras, em uma lareira contemporânea, feitas com madeira de chifre de veado. Os lustres também eram de madeira de veado, lavados com sabão preto. Era uma cena psicomágica. Eu queria colocar Françoise Lalande, nascida em Libramonte (cerca de sessenta quilômetros da casa dos Rimbaud-Cuif), escritora ardenesa, então autora da admirável e impetuosa Madame Rimbaud em situação de uma cena de seu livro. Ela, no papel de Vitalie Rimbaud e eu (muito modestamente, por sinal) no papel de Arthur, que queima seus escritos. Mas por que raios você quer reproduzir essa cena, Patrick Lowie? Você causou em mim um sentimento peculiar, até mesmo terrível. Eu acreditei que tinha sucumbido. Como se estivesse passando por um pesadelo para alcançar o sonho lúcido. Todos lutaremos em uma sala vazia entre integração e desintegração. Entre a vida e a morte. Entre a criação e a submissão. Quando entrei na sala, não restava mais nada, nem eu, nem Rimbaud, nem Germain Nouveau, nem sedução, nada, nada... Apenas a pequena bola branca que se aproximava para me atrapalhar. Pesadelo Recorrente.
Expliquei-lhe que eu também senti uma sensação especial, como uma cura de uma ferida velha, com este pequeno jogo de atuação, que ouvi uma pequena voz cantar na minha orelha. Poetas, vocês são seres impossíveis ! O que podemos fazer? Tudo. Ela começa a gargalhar. Nós atraímos nossos personagens e criamos nossas histórias. Estatisticamente falando, quem poderia ter imaginado que eu poderia conhecê-la, querida Françoise, em Lisboa, em Rabat e em Marraquexe? O mundo é feito de encontros perigosos? Ou todos nós somos dotados de uma energia que experimenta a necessidade de se conhecer e se reconhecer? Para forçar os destinos? Ela sai do cômodo e dá de cara com Isabella, que diz a ela: Mãe, peço desculpa pelo trabalho que estou lhe dando. Françoise Lalande se vira e me olha pretrificada.